segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Entre Santos

Por: Michelle Nery Rente

Contava um velho padre, uma história extraordinária que aconteceu quando ele era capelão de São Francisco de Paula.
Uma vez, tarde da noite antes de se recolher, como de costume foi verificar se todas as portas da igreja estavam trancadas, quando por baixo das portas avistou uma luz muito intensa e fixa, fazendo assim o padre pensar de se tratar de um possível roubo. Assustado, ele resolveu buscar as chaves e entrou na igreja pela sacristia.
Ao adentrar no recinto com uma lanterna, caminhou silenciosamente pelo corredor escuro seguindo a claridade que se encontrava no interior da igreja. Em certo ponto, o padre passou a escutar vozes que não se pareciam nada com cochichos, mas sim, com uma conversa tranqüila.
Nessa hora o padre recuou um pouco, achando que se tratava de uma conversa entre defuntos, já que naquela época se enterravam-se eles dentro das igrejas. Passado o susto, pensando que a idéia seria um disparate, o padre busca assim descobrir o que de fato estava acontecendo de errado dentro da igreja.
Neste momento, uma coisa extraordinária aconteceu, ele avistou São José e São Miguel sentados em seus altares conversando. Falavam diretamente virados para os altares de São João Batista e São Francisco de Sales. Perplexo, ele mau podia sair do lugar de tão impressionado que o capelão ficou. Por um momento, o mesmo pensou estar beirando à loucura!
Vendo assim que nem sequer os santos o tinham notado sua presença, o padre se dirigiu aos bancos, em um lugar distante onde não notariam sua presença e ao mesmo tempo poderia presenciar suas conversas. Aos poucos, foi adquirindo a percepção e pode ouvir claramente sobre o que conversavam. Ao mesmo tempo, percebeu que a luz que seguiu, no entanto, não vinha de nenhum outro lugar que não fosse dos próprios santos.
Passou então a não tentar pensar em mais nada, apenas ouvir e contemplar a conversação que ele então presenciava.
Naquele instante, os santos falavam sobre as orações e implorações daquele dia, sendo que cada um falava seu relato. São Francisco de Paulo passou a fazer parte da conversa também.
Entre casos, falavam sobre a fé sincera de alguns fiéis e a dissimulação de outros, como o caso de uma adúltera que ao brigar com o namorado, implorou que limpassem seu coração da luxúria, porém suas palavras passavam a ficar sem vida durante a prece, fria e mesmo rezando, sua cabeça pensava no outro. Levantou-se e saiu sem pedir nada.
O foco da conversa passou a ser então no caso de um homem por volta de cinqüenta anos chamado Sales (igual ao santo), que sua mulher que ele amava tanto estava de cama muito doente de uma erisipela em uma das pernas. Vivia há cinco dias aflito porque ela não se curava e suas chances de vida eram poucas.
Como o homem era muito ganancioso, as pessoas não acreditavam que ele amava a mulher mais do que o dinheiro. Elas comentavam que o homem apenas sofria pelos futuros gastos com as despesas funerárias.
O homem não possuía filhos, trabalhou a vida inteira e guardava em casa a sete chaves suas tão cobiçadas economias. Costumava contempla-las por alguns minutos e o guardava de novo. Depois do ocorrido com sua esposa, passou a dormir mal, sua família era apenas ela e uma escrava preta, comprada junto com outra às escondidas por serem de contrabando. Quando uma morreu, Sales enterrou a escrava como miserável, para não pagar as despesas com a sepultura.
Porém, uma coisa os santos não negavam, o amor verdadeiro por sua companheira por mais de vinte anos. Foi aí então que Sales resolveu voltar-se para Deus, com medo de perder seu amor.
O padre vendo que o busto de São Francisco de Sales se inclinar para contar detalhadamente a história, ele então deu um passou para ouvir a narração.
Segundo o santo, o homem então prometeu à São Francisco de Sales, que se sua mulher curar-se ele lhe mandaria fazer uma perna de cera. O próprio resolveu forçar assim a graça divina pela expectação do lucro.
O santo então percebeu a falta de fá em sua alma, que segundo ele faria que a intercessão fosse feita. Acabada a oração, o santo pode perceber que os pensamentos de Sales eram sobre a morte da esposa. Ele tentou contorcer para não deixar que sua boca pronunciasse seus pensamentos, e tornou a rogar para que o santo intercedesse por ele. Pensava na promessa das pernas de cera prometida ao santo, porém o dinheiro não tornava a sair de sua mente, virando assim em alucinações.
As alucinações fizeram com que ele passasse a prometer trezentos padre-nossos e trezentas ave-marias. Repetia em voz alta: trezentos, trezentas, trezentos...
Foi subindo para mil,mil,mil...assim repetia o homem na igreja.
-Vamos lá, podeis rir à vontade. Dizia São Francisco de Sales aos outros santos que riam de sua história.
Depois daí, o padre não pode ouvir mais nada, caiu redondamente no chão, e quando se deu conta o dia já estava claro. Correu para abrir a igreja e a sacristia e deixar o sol, inimigo dos maus sonhos entrarem.

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